Projeto Piá

O Cactus - Instituto de Educação e Cultura foi formado em 1997 por um grupo de estudantes da Universidade de São Paulo (USP), com o apoio de professores, garantindo assim a interface fundamental entre o Instituto e a USP.

Primando pela formação de adultos, jovens e crianças, prioritariamente oriundos de comunidades pobres, e pela mobilização de comunidades locais em prol da ocupação e (re)significação de espaços públicos, o InstitutoCactus tem como missão a promoção gratuita da educação, a partir da elaboração e acompanhamento de projetos educativo-culturais, em consonância com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e com a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Desde sua fundação o Cactus desenvolve estudos em políticas públicas para educação e cultura, a partir dos quais são elaboradas propostas de ação e pesquisa. Estas propostas culminaram na implantação do Espaço de Educação do Piá. Diversas atividades foram desenvolvidas pelo Instituto, e entre elas o Piá tornou-se permanente. Algumas outras que julgamos de maior importância são: Casa Mário de Andrade, LER E VER, Centro Vivo, Projeto Cactus/Nac/UMM - Cidade de Areia e a publicação Piá Piou!.

Além de ações de intervenção direta em comunidades, o Cactus promove pesquisas, eventos formativos, debates, publicações e intercâmbio de concepções e experiências entre profissionais e/ou projetos educativo-culturais.

O Piá é reconhecido como projeto de extensão universitária da Faculdade de Educação da USP por constituir-se como locus para ação e pesquisa em educação. Neste sentido o Coletivo Piá tem o intuito de fornecer subsídios para a elaboração e a implementação de políticas públicas na área da educação.

Desde 1997 o Piá configura-se como uma experiência autogestionada de educação de caráter público, desenvolvida por um coletivo de educadoras/es com crianças da Barra Funda e entorno. O caráter público, que para nós deveria ser o princípio primeiro da educação, é sustentado essencialmente por duas características do projeto: o fato do Piá ser gratuito e de estarmos localizados num espaço público.

Forma de organização e gestão

Tanto o Instituto Cactus, quanto o Piá, são espaços autogeridos, ou seja, não há hierarquia entre as funções exercidas e todas as decisões são tomadas coletivamente.

A autogestão – princípio do projeto – possibilita uma auto-educação de iguais permanente, única forma de se dar a educação. Considerada um desafio, e, portanto, fonte de algumas dificuldades, na medida em que estamos aprendendo (há alguns anos) como se dá esse tipo de organização de trabalho. Isso porque não existe a dicotomia mandar/obedecer, o que, se por um lado é coerente com o que pensamos sobre a educação e relações humanas, por outro, requer uma aprendizagem, uma vez que todo esquema de estrutura e sustentação de nossa sociedade se opõe a essa outra forma. Esse modelo requer, ainda, movimento permanente de seus membros, uma vez que solicita que estes ocupem múltiplos papéis: educadores e pesquisadores, pais e gestores, mães e cozinheiras etc.

Hoje nosso coletivo é constituído por professores universitários, pós-graduandos e graduandos em diversas áreas, pedagogos, crianças e pais do Piá. As funções são divididas em cargos diferentes, relacionados tanto ao cotidiano do Piá, como às atividades administrativas e institucionais:

Consultores e orientadores: são professores da Universidade de São Paulo, que acompanham as atividades do projeto, fazem avaliações periódicas do trabalho desenvolvido e dão o apoio institucional necessário para a realização de nossas atividades em geral, das pedagógicas à pesquisa acadêmica, diretamente vinculada à universidade.
Educadores: são os coordenadores institucionais do projeto, são eles os responsáveis diretos por todas as atividades da instituição. Elaboram e realizam o trabalho pedagógico e tudo aquilo que o evolve (reuniões semanais de planejamento e estudo, preparação e execução das aulas, compras de materiais, organização institucional do Piá), o trabalho das comissões e ainda respondem pela direção do Instituto, desenvolvendo atividades que não estão ligadas ao Piá e funções administrativas.
Estagiários: sãodivididos em dois níveis e estão em processo de formação para se tornarem educadores do Piá ou de outros projetos sócio-educativos. No primeiro nível sua atuação concentra-se no trabalho pedagógico e no segundo nível começam a assumir algumas responsabilidades institucionais.
Mães-cozinheiras: como o nome já diz, são mães de crianças do projeto convidadas a trabalhar conosco, passam também por uma formação e aos poucos vem se integrando ao coletivo de outras formas, assumindo comissões ou realizando estágio para se tornar educadora, por exemplo.
Mães-diaristas: realizam a faxina semanal no Piá, em sistema de rodízio de pais.

Para garantir a concretização dos objetivos do Instituto Cactus organizamos nosso trabalho no que chamamos de Comissões de Trabalho que abrangem determinados focos de ação. Estas comissões são compostas basicamente pelo coletivo de educadores do Piá, por estagiários e por pais voluntários, que trabalham em forma de rodízio anual nas comissões.

Hoje são nove as frentes de trabalho do Piá, funcionando de forma integrada: Comissão de Alimentação e Saúde, Comissão de Pais, Comissão de Escola, Comissão de Comunidade, Comissão de Comunicação e Eventos, Comissão de Formação, Comissão de Pesquisa, Comissão de Sustentabilidade e Comissão de Gestão Institucional.

Esta comissão é responsável por tudo que se refere às questões de alimentação e saúde: contato com a nutricionista voluntária, que elabora um cardápio balanceado para as refeições; formação das cozinheiras; acompanhamento da alimentação diária de cada criança; coordenação da horta e controle de qualidade dos alimentos consumidos no Piá; além de mediar a relação com o Posto de Saúde-Escola da Barra Funda e promover de eventos para a comunidade relacionados à saúde e alimentação.

Uma alimentação balanceada é garantida através do fornecimento de três refeições diárias durante o tempo de permanência das crianças e adolescentes no Piá. Além disso, desenvolvemos atividades lúdicas específicas visando a (re)educação de hábitos alimentares das crianças e jovens, e expandimos o trabalho para ações junto à família e à comunidade em geral, oferecendo oficinas sobre reaproveitamento de alimentos, receitas de baixo custo, cuidado com os alimentos, como oferecer uma alimentação balanceada etc.

Complementarmente à preocupação com a alimentação, existe um cuidado com as condições de saúde de cada criança. Para tanto, temos desenvolvido ações conjuntas com o Centro de Saúde-Escola da Barra Funda. Anualmente é feito um levantamento dos principais problemas que comprometem a saúde das crianças do Piá. Dentre eles, têm-se destacado: doenças respiratórias e de pele, escabiose, má alimentação (algumas crianças apresentavam quadro de desnutrição) e também problemas de dentição. Após este primeiro levantamento as crianças do Piá que necessitam de tratamento específico são encaminhadas para o Centro de Saúde, onde estão cadastradas desde a matrícula, assegurando que os pais possam dar continuidade ao acompanhamento médico das crianças e que as famílias estejam inseridas nesta rede de atendimento. Desta forma, as famílias têm garantia de acesso aos programas de prevenção e erradicação de doenças, promovidos pela equipe de agentes comunitários e aos atendimentos oferecidos pelos diferentes profissionais da saúde que ali atuam (médicos, dentistas, fonoaudiólogos, psicólogos etc).

No ano de 2005 as ações conjuntas com o Centro de Saúde-Escola foram ampliadas a partir da realização de visitas dos profissionais da área odontológica e fonoaudiológica ao Piá, onde estes fizeram avaliações de cada criança e, quando necessário, o agendamento de consultas. É importante lembrar que estes eventos têm caráter preventivo, informativo e incentivador do cuidado com a saúde das crianças, uma vez que cabe às famílias o retorno ao Centro de Saúde e a continuidade dos tratamentos prescritos.

Ainda promovemos atividades sobre a saúde e cuidados com o corpo não apenas para as crianças e jovens, mas para a comunidade em geral, através do oferecimento de oficinas e palestras gratuitas. Muitas dessas ações, realizadas pelos profissionais do Centro de Saúde, têm também o intuito de divulgar as demais ações deste órgão e mobilizar os pais das crianças e a comunidade para que se apropriem destes serviços.

Por meio do vínculo estreito com as agentes comunitárias do Centro de Saúde temos informações sobre as condições de moradia de muitas crianças, facilitando o direcionamento de estratégias de ação e de temas a serem trabalhados nos espaços de formação, tanto para as crianças, quanto para a comunidade. Essas ações vêm possibilitando a promoção de um desenvolvimento físico e intelectual saudável das crianças, principalmente daquelas que já chegavam ao Piá sub-nutridas ou com outros distúrbios orgânicos.

Dedica-se ao contato direto com os pais das crianças do Piá, proporcionando-lhes espaço de escuta e aconselhamento no que se refere a dúvidas ou problemas da vida escolar ou familiar dos seus filhos. Esta comissão é responsável pela abertura de um espaço de diálogo e organização coletiva dos pais em ações ligadas direta ou indiretamente ao Projeto, como a formação de frentes de trabalho. A ação desta comissão vincula-se à ação da comissão de comunidade, na medida em que a formação de lideranças entre os pais possibilita a mobilização de membros da comunidade que não estão diretamente ligados ao Piá.

São encargos desta comissão: apresentar pautas e fazer registros das reuniões de pais (bimestrais), assim como, marcar conversas mais minuciosas com algumas famílias sempre que se faz necessário. Além dessas ações cabe a essa comissão ajudar a priorizar ações para os mutirões mensais organizado pelos pais, que hoje realiza reformas na estrutura física do espaço do Piá e no Clube, busca recursos e doações de materiais, limpa o espaço, auxilia na organização da secretaria do Piá, entre outras atividades.

A comissão de Escola é responsável pela articulação do Piá com a rede pública de ensino, que se estabelece em dois âmbitos: no trabalho cotidiano com as crianças que freqüentam o projeto (além do acompanhamento escolar) e na pesquisa.

Suas ações prioritárias são: estar atenta a quem deve ser matriculado na escola, conversar com os pais para saber em que escola pretendem matricular seus filhos e se estão tendo algum problema para efetuar as matrículas (que geralmente são feitas em escolas da região); agendar uma visita para que a criança conheça o espaço da escola na qual irá estudar, os professores e a organização desta instituição. Além desse acompanhamento do início da vida escolar das crianças, é responsabilidade desta comissão fazer duas reuniões semestrais nas escolas, para que possamos conhecer o trabalho desenvolvido por este outro espaço de educação, trocar experiências e informações e traçar possíveis estratégias conjuntas de ação. Nestes encontros fortalece-se o vínculo entre o Piá e a escola, o qual julgamos fundamental para a permanência e o bom desenvolvimento das nossas crianças na escola. Outras duas ações também são fundamentais neste sentido: conversas periódicas com os pais e reuniões com os professores e coordenação pedagógica das escolas públicas da região nas quais as crianças estudam.

O segundo momento de articulação do Piá com a escola formal acontece na produção de pesquisa, principalmente na área da Educação Infantil. Nossas pesquisas têm como um de seus principais objetivos contribuir para a melhoria do ensino público da região. A partir da experiência do Piá como espaço de educação e das muitas questões que surgem no decorrer do nosso dia-a-dia, pensamos ser essencial promover um espaço para a troca de experiência sobre algumas destas questões e a discussão com outros professores. Como forma de viabilizar o contato com outros educadores e demais interessados na área, elaboramos a publicação Piá Piou!, revista de distribuição gratuita, que além de divulgar o projeto e o trabalho com as crianças, também incorpora elaborações teóricas do coletivo do Piá. Este meio de comunicação possibilita estabelecer uma relação concreta com as escolas do bairro e propiciar encontros e atividades conjuntas entre os espaços, a fim de consolidar o Piá como espaço de troca de experiência e de teorização sobre as possibilidades da educação.

O espaço de troca é de extrema importância, pois além de divulgar a revista, produzida pelas crianças e educadoras do Piá, nas escolas e incentivar o trabalho com este material como forma de intercâmbio ou como inspiração para novas práticas, também amplia o debate sobre educação de qualidade nas escolas do bairro. Assim, o Piá considera de extrema importância essa articulação, na medida em que tem como um de seus princípios a valorização da escola pública e a contribuição para a melhoria do ensino público.

A Comissão de Comunidade é responsável pela relação do Piá com a comunidade em geral. Atua no sentido de incentivar a apropriação pela comunidade dos espaços públicos da Barra Funda, bem como contribuir para a mobilização e aproximação da comunidade junto às ações do Instituto Cactus, através da promoção de eventos, cursos, festas de confraternização e parcerias que facilitam o acesso aos equipamentos sociais do bairro.

Para tanto, são ações desta comissão a articulação e estabelecimento de parcerias com outras instituições, mapeando os espaços e instituições públicas e do terceiro setor, bem como empresas privadas que desenvolvem ações de responsabilidade social na região. Estas articulações têm contribuído para o fortalecimento do caráter público do projeto e para a ampliação da capacidade de organização e mobilização social da comunidade para a resolução de seus problemas mais urgentes. As parcerias por nós estabelecidas estão diretamente vinculadas ao Piá, embora grande parte de nossas ações se estendam à comunidade do entorno em geral.

Esta comissão planeja, divulga e realiza todos os eventos do Piá, tanto os de confraternização e de caráter cultural - Festa Junina, Sexta em Foco, Pernoite etc – como os de formação e debates – palestras, encontros para trocas de experiência, cursos de formação etc. Estes eventos aproximam-nos da comunidade da região, divulgando nossas ações e proporcionando acesso ao lazer, cultura e aos equipamentos sociais do bairro. Os debates promovidos visam ampliar a discussão sobre educação nos meios acadêmicos, dando ênfase às nossas ações de pesquisa e de formação.

A elaboração de material de qualidade sobre o projeto, bem como o contato para divulgação em diferentes veículos de comunicações é feito por essa comissão, garantindo visibilidade crescente ao projeto.

São ações da Comissão de Formação a elaboração, implantação, acompanhamento e avaliação dos programas do Espaço de Formação em Educação. (LINK para FORMAÇÃO)

A Comissão de Pesquisa é responsável pela coordenação das pesquisas, avaliação dos impactos sociais das ações desenvolvidas pelo instituto e pela sistematização da experiência do Piá. Esta é uma comissão mista, composta por membros do instituto, pesquisadores e professores de universidades, mais especificamente da USP, e por integrantes de outros projetos educacionais, nos casos de pesquisas integradas.

Estas ações visam promover um debate a cerca das possibilidades e limites da educação enquanto uma ação de transformação social. Pensamos que a divulgação da experiência do Piá e de suas concepções político-pedagógicas também possa contribuir para a formulação de políticas públicas para a melhoria do ensino público ou de novas ações da sociedade civil.

A Comissão de Gestão Institucional realiza um planejamento mais geral dos rumos do Instituto Cactus, articulando as diversas comissões e cuidando de assuntos administrativos, como a secretaria do projeto e as finanças. Sua principal função é desenvolver meios de gestão e organização das ações desenvolvidas, a fim de que o coletivo possa ter uma visão mais abrangente do que cada comissão está fazendo, podendo assim estabelecer prioridades e planejar as próximas ações.

Apesar de a Comissão de Sustentabilidade ter um coordenador, todo o coletivo é responsável por este trabalho, inclusive as comunidades envolvidas nos projetos por nós desenvolvidos. Esta comissão busca, a partir de um prévio estabelecimento das ações prioritárias, recursos ou apoios necessários a execução dos projetos. Portanto, está implicada também na articulação política com setores públicos e privados, que possam auxiliar principalmente na consolidação das atividades desenvolvidas e na permanência dos projetos através, por exemplo, de sua transformação em política pública.